Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.

9 de agosto de 2012

Catolicismo e Vida - o papel da Igreja

Um dos problemas do Catolicismo, hoje em dia, é a disparidade entre os seus dogmas e as práticas dos seus crentes, criando uma sociedade hipócrita, do estilo: "olha para o que eu digo, não olhes para o que eu faço". Muitos clamam por mudanças, o Papa resiste. Mas resistirá ele apenas por ser conservador, ou também por ter dificuldade em conjugar as preferências dos católicos espalhados pelo mundo?

Entre os europeus e os sul-americanos, por exemplo, há diferenças enormes (para já não falar dos fundamentalistas norte-americanos). Se nós, na Europa, estaríamos preparados para aceitar o fim do celibato dos sacerdotes, a ordenação de mulheres e a inclusão de divorciados (ou de qualquer tipo de família mono-parental) na Eucaristia, na América do Sul, tal "revolução" poderia causar convulsões sociais, quiçá, o desmembramento da Igreja.

Mas mesmo entre os europeus existem grandes diferenças. No Jornal do Bispado de Hildesheim, que assino há cerca de ano e meio, vejo serem tratados temas que dificilmente veria num jornal católico português, por exemplo: um enorme empenho ecológico (começando com os gastos energéticos das próprias igrejas e das escolas, infantários e lares de idosos delas dependentes), a defesa do fair trade em detrimento da globalização, abertura a temas como o suicídio e o abuso sexual de crianças por membros da Igreja, ou a discussão da existência de alma nos animais, com a consequente consideração do vegetarianismo como modo de vida, mas também o apelo para que os seres vivos que connosco dividem o planeta sejam tratados com a dignidade que merecem (também os que são criados para a nossa alimentação).

Dir-me-ão que é a proximidade aos protestantes. De facto, cerca de 50% da população alemã é luterana e realizam-se muitas missas ecuménicas. Eu própria já assisti a uma, quando uma das igrejas católicas de Stade celebrou o 50º aniversário da sua construção, numa missa rezada pelo próprio bispo Norbert Trelle e tendo, como convidados, os pastores protestantes locais. Mais: houve duas homilias, uma proferida pelo bispo católico e outra por um dos sacerdotes protestantes.

A igreja estava a abarrotar e era notória uma atmosfera de grande solidariedade e bem-estar. Talvez porque se tornou palpável a convicção de que o amor ao próximo se consegue com proximidade e aceitação, não com rejeição.

Acho que fazia muito bem à Igreja Católica refletir sobre o seu verdadeiro papel no mundo do século XXI.

2 comentários:

Anónimo disse...

É Natural que a Igreja Católica tenha que mudar.A religião qualquer uma, exige sacrifícios e as pessoas não estão para aí voltadas.Hoje a vida é feita de facilitismos, a partilha já não existe.Mas a religião Católica faz falta, É uma marca da Europa.
Temos que procurar cumprir melhor.
Os Católicos hoje já não educam os filhos,nem na Católica nem noutra.
Assim vai o Mundo.
Filomena

Cristina Torrão disse...

Sim, é verdade que, inclinadas para o facilitismo, as pessoas, hoje em dia, vivem uma vida muito vazia, a nível espiritual, e tentam compensar esse vazio com bens materiais.
Por outro lado, não penso que uma religião tenha de exigir muitos dos sacrifícios tradicionais. Acho que há dogmas obsoletos que deviam desaparecer, para que a Igreja adquirisse um papel de charneira, no que respeita à ecologia, à luta contra o racismo, ou pela igualdade.
Na minha opinião, por exemplo, não vale de nada defendermos a virgindade antes do casamento e irmos à missa todos os domingos se, nas próximas férias, abandonamos o gato ou o cão. Estamos a desrespeitar criaturas de Deus. Também não adianta nada cumprir todos os sacramentos, se nos empaturramos de carne, contribuindo para a degradação com que são criados os animais para esse efeito; ou comprando artigos que contribuem para o trabalho infantil em certos países.
São só exemplos.