Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.

18 de agosto de 2016

Amores de Dom Dinis (2)



Fonte da imagem

Mais uma passagem do meu romance sobre Dom Dinis, referente à sua paixão por uma donzela protegida de Dona Isabel e em que o Rei Lavrador revela a sua veia poética:

Dinis nunca se vira em tal situação, sempre seguira os seus impulsos, não hesitando em seduzir uma dama que o encantasse. A verdade é que se interessava, pela primeira vez, por uma protegida da rainha. Sempre achara tais moças novas e tímidas demais, um juízo que se acentuara com o passar do tempo. Aquela jovem, porém, ultrapassava todas as suas expectativas, no que respeitava a beleza e graça. Para mal dos seus pecados, também cativava Isabel, era visível a ternura que a rainha nutria por ela, expressada num grande empenho em lhe proporcionar um futuro digno. Branca Lourenço de Valadares não era apenas mais uma protegida de Isabel, era a sua protegida especial!
Assim que recolheu aos seus aposentos, e apesar de extenuado, Dinis sentou-se à sua escrivaninha, expressando o desespero em que viveria, enquanto não declarasse o seu amor:

(Tivesse eu tempo e Deus me desse o poder de vos contar o mal que me faz sofrer essa vossa beleza, da qual Deus não fez par; pudesse eu falar-vos e perderia muito do sofrimento que hoje me mata; Deus fez-me amar-vos tanto, que não consigo imaginar como possa continuar a viver, se não acabardes com este meu sofrimento sem igual):

                        Senhor, hoj’ houvesse eu vagar
                        e Deus me desse end’ o poder,
                        que vos eu podesse contar
                        o gram mal que mi faz sofrer
                        esse vosso bom parecer,
                        senhor, a que El nom fez par.

                        Ca se vos pudess’ i falar,
                        cuidaria muit’ a perder
                        da gram coita e do pesar
                        com que m’ hoj’ eu vejo morrer,
                        ca me nom pod’ escaecer
                        esta coita que nom há par.

                        Ca me vós fez Deus tant’ amar,
                        er fez-vos tam muito valer,
                        que nom poss’ hoj’ em mi osmar,
                        senhor, como possa viver,
                        pois que me nom queredes tolher
                        esta coita que nom há par.


Dom Dinis Papel (1).JPG


O meu romance sobre Dom Dinis está à venda sob a forma de ebook na LeYa Online, na Wook e na Kobo.

Para adquirir a versão em papel, contacte-me através do email andancas@t-online.de.

Nota: Todas as Cantigas de Amor, de Amigo e de Escárnio transcritas no meu romance são originais de Dom Dinis, embora seja fictício o contexto em que são inseridas. 



Sem comentários: